“Se não tivéssemos feito nada e o sistema corresse livre, hoje teríamos mais de 9 mil mortes somente no Rio Grande do Norte”. A afirmação é professor e pesquisador José Dias do Nascimento, do Departamento de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), para quem o isolamento social no RN garantiu um número mais baixo de óbitos entre a população potiguar.
A declaração se baseia em dados de modelos matemáticos que ele construiu. A estimativa é referente ao dia 29 de abril. Hoje, o Rio Grande do Norte registra 56 mortes. Se o isolamento social não tivesse sido estabelecido, de acordo com a estimativa dos modelos, o RN poderia estar com algo entre 9 mil e 10 mil óbitos.
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Também de acordo com a previsão do modelo, há apenas seis dias poderiam ser registradas 2.200 mortes. Isso significa que, em menos de uma semana, poderiam ter morrido 7.900 potiguares. O isolamento social vem sendo aplicado, em todo o mundo, como uma das principais ferramentas de enfrentamento à pandemia.
O distanciamento tem por base restringir o trânsito de pessoas nas ruas, com o fechamento do comércio, suspensão das atividades escolares, ficando liberadas apenas a circulação estritamente necessária de pessoas e serviços.

O decreto publicado pelo Governo do Estado do Rio Grande do Norte amplia até 5 de maio (terça-feira) o prazo de isolamento social. Foram flexibilizadas, contanto, algumas atividades específicas, como a construção civil, o setor hoteleiro e algumas atividades de higiene pessoal, como barbearias.
Antes mesmo da flexibilização – que ampliou de 36 para 45 as atividades tidas como essenciais – a população não estava cumprindo totalmente com o isolamento social para atingir o que é orientado pelos pesquisadores e autoridades públicas.
De acordo com os cientistas, seria necessário um isolamento de 70% da população para que a curva epidemiológica fosse contida, diminuindo o risco de causar um colapso no sistema de saúde. No Rio Grande do Norte, o índice de isolamento social da população hoje é de 51,1%, de acordo com monitoramento realizado site Inloco, que atualiza seus dados diariamente.
Segundo José Dias, que está na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, as medidas de isolamento social no RN foram fundamentais para que esses números não se transformassem em realidade. Ele ainda alerta quanto ao retorno das atividades.
“Tivemos o decreto de restrição das escolas que foi uma grande contribuição na queda da curva. Restringir, segurar e isolar de forma extremamente severa faz o processo todo encurtar entre o início e o final, é exatamente essa a grande dificuldade das pessoas entenderem”, acrescentou.

A importância dos modelos matemáticos
Os modelos matemáticos sempre foram utilizados como ferramentas para gerenciar epidemias. A primeira utilização que se tem registro foi em 1919, com a epidemia da gripe espanhola. A principal função dos modelos é servir como ferramenta diante da inexistência de uma testagem em massa que dê um diagnóstico real e preciso do cenário, assim como a não existência de uma vacina, que possa imunizar a população.
A diferença para o século XXI está no que os pesquisadores chamam de ciência de dados, um modelo físico extremamente robusto com aquisição de informações muito ágil. Através desses modelos é possível prever quando a onda epidêmica vai chegar, a intensidade, o fim e os efeitos do isolamento social.
Além do cenário do Rio Grande do Norte, José Dias projetou situações no Ceará, Pernambuco, Bahia e Alagoas a pedido do comitê científico do Nordeste, sob coordenação do neurocientista Miguel Nicolelis. Conforme esclareceu, o modelo matemático é o principal instrumento para o enfrentamento da pandemia.
“Não temos, na maioria dos países, uma testagem massiva que dê um diagnóstico real da situação. A única forma de medida do nível epidêmico é através de modelos, algo já estabelecido na ciência. Na falta de testes, os modelos são uma luz que clareia o futuro na tomada das decisões”.